sexta-feira, 4 de setembro de 2009

MÊS DA BÍBLIA

Caros leitores(as):

Estamos no mês de setembro e, conforme o costume proposto pela própria Igreja, os cristãos católicos são convidados a intensificar seu contato e experiência com a Palavra de Deus. Claro que isso não deve resumir-se a este período. Ele é apenas um convite para reforçar e evidenciar a consciência da necessidade de sempre a comunidade caminhar tendo a Palavra de Deus como referencial básico de sua doutrina, de sua prática, de sua liturgia e de sua oração.


Apesar de, usualmente, dizermos que este é o “mês da Bíblia” é preciso lembrar que seria muito mais apropriado dizer que este é o “mês da Palavra de Deus”, pois a mesma não tem como única depositária da Revelação Divina as Sagradas Escrituras. Além desta, temos a Tradição Apostólica. Esta, por sua vez, não se identifica com conservadorismos de práticas do passado já impróprias para o presente. Jesus mesmo, de forma bastante explícita, confrontou-se com as falsas tradições de seu tempo, presentes na religião judaica e já incapazes de criar uma relação pura e íntima com Deus. Basta que se tome os Evangelhos para corroborar estes fatos ou a postura de Jesus diante dos elementos da religião antiga que não passavam de meros rituais exteriores, superficiais, apenas para garantir uma boa imagem, não correspondente ao essencial do que se espera em relação a Deus. As práticas rituais em si não deveriam ser extintas, nem mesmo a Lei. Deviam ser "purificadas" e isentas de quaisquer máculas ou interesses humanos. Tudo isso para serem manifestação e extenção da verdadeira Lei e do verdadeiro culto. Não se tratava propriamente de "jogar no lixo" toda tradição herdada dos antigos, mas o convite de Jesus era para uma nova postura diante desta mesma realidade. Assim, apenas para ilustrar figurativamente, quando uma mãe banha seu filho numa banheira, joga fora apenas a água suja e não a criança junto. Do mesmo modo Jesus diante da Palavra e das tradições antigas, inicia uma verdadeira "limpeza", sem moralismos baratos, sem legalismos, mas reforçando e fazendo voltar a atenção àquilo que era e é essencial.


Como nos ensina a Doutrina da Igreja, Tradição é a contínua transmissão da mensagem de Jesus Cristo a partir das origens do cristianismo, sobretudo através da pregação, da prática testemunhal dos cristãos, das instituições, da liturgia (culto) e dos escritos inspirados. Diz-se que a Tradição é “Apostólica” porque os apóstolos transmitiram suas próprias experiências aos bispos, seus legítimos sucessores, e estes, através das gerações e pelos séculos, continuam transmitindo até o final dos tempos aquilo que de Cristo mesmo receberam através da história. A Sagrada Escritura é o mesmo anúncio da salvação feito por escrito. Junto com a Tradição, formam um único depósito da fé, onde a Igreja encontra sua certeza sobre a Revelação de Deus.


Também se deve levar em conta o papel do Magistério Eclesial. Este é formado pelo Bispo de Roma, o papa, junto com os outros bispos, com ele em comunhão. Cabe-lhes interpretar o depósito da Palavra de Deus, estando a seu serviço, bem como formular as definições dogmáticas a partir das verdades contidas nesta Palavra. Note-se que Escritura, Tradição Apostólica e Magistério Eclesial não se separam, mas concorrem para tornar presente e evidente a salvação da humanidade. Os cristãos são portadores desta palavra e, como verdadeiros “discípulos e missionários de Jesus Cristo”, conforme a proposta da V Assembléia Geral do CELAM, devem torná-la presente em todos os momentos ou circunstâncias de sua história. Não é possível ser discípulo de Jesus Cristo nem seu missionário sem ter presente a Palavra de Deus.


Esforcemo-nos, pois, para que a Palavra seja realmente uma luz que ilumina os nossos passos, dando-nos a clareza necessária no caminho a seguir, para que tenhamos mais vida, e vida em abundância.


Também neste momento pensemos na organização da sociedade e em tudo o que expressa o bem comum. Encontremos na Palavra a base necessária para termos critérios ou princípios seguros para a nossa postura de cristãos e cidadãos diante dos desafios de nossa história. Olhando para a experiência do Povo de Deus, vamos nos comprometer profeticamente e promover um mundo melhor.


Além disso, acompanhemos o mundo da política, para que nossos governantes (em todos os níveis) realmente saibam que são eleitos pelo povo, e estão ali para servir, não para servir-se do povo. Os cristãos não podem mais admitir políticos que estejam a serviço de poucas pessoas ou de grupos restritos da sociedade. Devem os políticos saber que estão a serviço de todos, sobretudo dos mais necessitados. Mesmo que insistam no argumento insustentável de que os cristãos não podem se envolver em política, os princípios éticos e religiosos deste povo devem ser respeitados, o que nem sempre acontece. Ainda que se afirme que o Estado é laico, como muitos tentam sustentar, é preciso lembrar que os cidadãos são pessoas que possuem valores e fé, não importando a denominação. Os que governam, portanto, não podem, em nome de uma minoria, ignorar isso e tomar iniciativas que desrespeitem os princípios do povo, do qual estão a serviço. Pensemos em tudo isso, evitando eleger nas próximas eleições pessoas que traem a confiança que depositamos nas urnas.


Que o Senhor Deus da vida vos abençoe!


Padre Marcos Radaelli

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