segunda-feira, 14 de setembro de 2009

EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ

Amados irmãos(as):

Hoje celebramos a festa da EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ, um grande sinal para cristãos do mundo inteiro.

Na tradição das Igrejas Orientais a data é celebrada como solenidade, associada à própria solenidade da Páscoa, que ocupa lugar central no calendário litúrgico.

De acordo com a tradição, em Jerusalém, no Gólgota, e no Sepulcro de Cristo Ressuscitado, foram construídas duas basílicas por ordem do imperador Constantino. No dia 13 de setembro de 335 essas basílicas teriam sido dedicadas e, no dia seguinte, era explicado o significado das mesmas “mostrando o que restava do lenho da Cruz do Salvador”.

Esta é a origem da celebração da Exaltação da Santa Cruz, Mais tarde também presente em Roma no século VII. Posteriormente acrescentou-se a “lembrança da vitória de Heráclito sobre os persas (630), dos quais o imperador arrebatou as relíquias da Cruz, que foram solenemente levadas à Jerusalém” (cf. Missal Cotidiano, p.1.735). A partir deste evento a Igreja passou a celebrar o triunfo da cruz.

Passou a ser costume nas Igrejas que se mantivessem uma cruz próxima ao altar quando o Sacrifício Eucarístico é celebrado. O gesto lembra a serpente de bronze que Deus mandou Moisés elevar no deserto para curar os que haviam sido picados. Estes hebreus deveriam olhar para aquela imagem para alcançar a cura. O Evangelista João, no seu relato da Paixão do Senhor, utiliza de um simbolismo semelhante ao referir-se ao Crucificado (Jo 19,37): “olharão para aquele que transpassaram”.

O simbolismo da cruz, no decorrer dos séculos, esteve presente em vários momentos da vida eclesial, nas famílias, nas manifestações sociais ou privadas. Atualmente nem sempre este tão importante símbolo está presente por diferentes motivos: ideologias, intolerância religiosa, dentre outros. Outras vezes até se faz presente, mas de modo a atender a interesses de pessoas ou por modismo (sem conhecimento de seu sentido profundo). São posturas lamentáveis diante de tão grande sinal, como também é lamentável e inadmissível que esferas de poder dentro da sociedade tentem banir os crucifixos de todos os ambientes (repartições) públicos, como tem acontecido ultimamente no Brasil. Certamente, quem toma uma postura dessa natureza desconhece o significado da Cruz e revela injusta intolerância com algo tão presente na história do país e de sua religiosidade. Algo tão querido assim pelo povo não pode ser-lhe arrancado, em hipótese alguma, por qualquer autoridade ou pela ideologia de uns poucos.

A cruz é sinal do amor de Deus. Não um deus que gosta de sofrer, mas que, por amor de nós, foi capaz de suportar extremo sofrimento para que fossemos salvos. É sinal de salvação. Nosso Deus é um Deus vivo que venceu a morte. Não podemos, como muitos pretendem, retirar a imagem do Senhor Jesus Cristo da cruz sob pretexto de que Ele é o Senhor Ressuscitado. De fato Ele é o Ressuscitado, porém, antes disso, passou pela Paixão e Morte para nos salvar, e isso não foi um gesto qualquer. Querer separar a Ressurreição da Paixão e Morte é ter medo de seguir o Cristo em todos os momentos de sua caminhada, como muitos desistiram pelo caminho quando subia para Jerusalém. Estes preferiam já o Cristo Glorioso, mas não se comprometiam com Ele. O Ressuscitado é o Crucificado. O Crucificado é o Ressuscitado. Ter a imagem do Cristo pregado na cruz permite-nos contemplar o mistérios da Salvação de toda humanidade em sua integralidade. É importante que não nos apeguemos a interpretações parciais ou unilaterais daquilo que, por excelência, celebramos no Sacrifício Eucarístico, quando se faz memória da Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Esta memória não significa apenas lembrança vaga do passado, mas torna presente, de modo incruento, o mesmo sacrifício do Senhor.

Talvez, os que não aceitam a imagem de Jesus na Cruz, não a aceitam por não querer olhar para os crucificados deste mundo, pelos quais o Senhor morreu e ressuscitou. Não podemos ignorá-los, pois eles existem e estão por todo lugar: os pobres e miseráveis, os doentes, os idosos rejeitados, as crianças abandonadas com submetidas a um sistema educacional deficiente, os doentes que penam por uma assistência ou tratamento digno de sua saúde, os desempregados que se desesperam por não conseguir dar o sustento às suas famílias, os explorados, os viciados em drogas, os jovens que não contam com políticas públicas sérias e capazes de oferecer-lhes oportunidades de realização de sua vocação, as mulheres marginalizadas e muitas vezes jogadas à humilhação da prostituição, as vítimas da violência urbana muitas vezes causada por aqueles que tem o dever de manter a ordem, e muitos outros. São frutos, situações e/ou estruturas de pecado. O Senhor passou pela Cruz e Ressurreição para deles nos salvar, mas parece que muitas vezes as pessoas ignoram o fato. Talvez por ser mais fácil olhar só para a cruz sem o Cristo, pois contemplá-lo no rosto dos pequeninos e sofredores, com os quais Ele mesmo se identificou, é muito mais difícil. Mas é preciso recordar que foi por eles que o Senhor se entregou e aceitou morrer na cruz. E esta nos ajuda a não esquecer o que o Ele fez por nós, nem esquecer aqueles pelos quais fez o que fez. Não tenhamos medo de nos entregar àquele que tudo fez por nós.

Que a celebração da EXALTAÇÃO DA SANTA CRUZ renove em nossos corações o compromisso com o Senhor, sobretudo na pessoa dos que mais sofrem e são desconsiderados por uma sociedade que, cada vez mais, rechaça este grande sinal do amor de Deus.

ORAÇÃO:

Ó Deus, que para salvar a todos dispusestes que o vosso Filho morresse na Cruz, a nós que conhecemos na terra este mistério, dai-nos acolher no céu os frutos da redenção. Por nosso Senhor Jesus Cristo, vosso Filho, na unidade do Espírito Santo. Amém!

Padre Marcos Radaelli

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