domingo, 23 de agosto de 2009

CHAMADOS AO MATRIMÔNIO


Prezados irmãos(as):
Estamos no mês vocacionao (agosto) e seguindo a proposta da Igreja para estes dias, somos convidados a tornar presente em nossas orações a intenção por todos aqueles(as) que sentem-se chamados por Deus ao Matrimônio. Além disso, convém que a família seja um tema muito bem refletido nas comunidades, especialmente junto aos jovens, junto àqueles que se preparam para o matrimônio, sejam eles casais de namorados ou noivos, ou junto aos que já receberam este sacramento. Por isso, embora seja importante, não basta nesta semana comemorar apenas o dia dos pais. É preciso lembrar da família considerada amplamente.
A razão desta atenção especial deriva do fato de o casamento ser também uma vocação. Vocação significa chamado. Para nós cristãos, Deus é quem chama, primeiramente à vida e à santidade, tornando-nos cristãos através do Batismo, que nos faz filhos do Pai no Filho Jesus, libertando-nos do pecado original e nos tornando membros de sua família maior, a Igreja. Todos os que se sentem chamados ao matrimônio devem ter clara consciência de que este chamado é-lhes remetido por Deus mesmo. A decisão pelo casamento é uma resposta à proposta divina, que confere uma missão toda especial.
Embora a vocação dos leigos será refletida na quarta semana de agosto, a vocação matrimonial é própria aos fiéis leigos. Sobre a missão específica dos leigos convém refletir na ocasião, e aqui concentrar-se no que reflete o pensamento da Igreja acerca do Sacramento do Matrimônio. Este é uma das maneiras pelas quais a pessoa humana realiza sua vocação leiga. Precisamente, são chamados a constituir uma família, através da união íntima de amor e vida entre o homem e a mulher. Também assumem o compromisso de acolher os filhos, assumindo a vocação de ser pai ou mãe.
Antes de tudo, é necessário lembrar que a Igreja entende a união entre homem e mulher, através do Sacramento do Matrimônio, a partir da Palavra de Deus. Por isso, tudo o que está contido nesta Palavra torna-se base para o que o magistério eclesial ensina. Esta mesma Palavra leva à compreensão de que o ser humano é obra do amor de Deus. Ele, que em si mesmo é amor, criou-nos com amor e por amor. Mas não é apenas isso, pois o Criador capacitou sua criatura humana para amar. A expressão deste amor realiza-se no chamado ao Matrimônio, pelo qual ambos vivem em íntima comunhão de vida e amor mútuo. É uma relação tão estreita a ponto de “não serem mais dois, mas uma só carne” (Mt 19,6). A natureza intrínseca a esta união concorre para o bem do casal, mas não se encerra nisto, pois o amor de Deus, presente na vida a dois, é orientado também para a geração e educação dos filhos. Os pais, no dia do casamento, conforme explicitamente expresso no rito do Matrimônio, assumem o compromisso de receber com amor os filhos que Deus lhes confiar e, além disso, de educá-los na “lei de Cristo e da Igreja”.
No Antigo Testamento esta realidade está indicada em diversas passagens ou períodos, sempre apontando para a unidade e mesmo ao fato de o vínculo matrimonial ser indissolúvel. É importante salientar que, em termos gerais, o tema central de toda a Sagrada Escritura é a Aliança. O centro desta, no entanto é Jesus Cristo mesmo. Desde os antigos tempos, Deus fez aliança com seu povo, Israel. Sempre foi um pacto de amor, vida e felicidade, desde que houvesse fidelidade. Fidelidade é, aqui, caminho de felicidade, o que não significava ausência de dificuldades. A história do povo de Deus é cheia de episódios alegres, festivos, vitoriosos, mas também tristes, cheios de situações limites. Mas o povo, apesar de muitas vezes rebelar-se e ser infiel, podia contar com um Deus presente e fiel. Mesmo diante das inconstâncias humanas, a misericórdia de Deus sempre foi maior, pois Ele é todo amoroso para com sua criatura, e não deseja perde-la, mas garantir-lhe a vida. Por isso, já há muito tempo a Aliança é descrita em termos nupciais. É como um matrimônio entre Deus e Israel. Esta Antiga Aliança prefigura e prepara a nova e definitiva Aliança, levada a termo por Jesus Cristo, Filho de Deus. Neste tempo novo, de novo pacto, Cristo é o esposo, e a Igreja sua esposa.
Estas considerações são necessárias, pois o Matrimônio é um sacramento. A palavra sacramento significa sinal. É um sinal eficaz da graça de Deus, que torna presente a realidade celebrada litúrgica e sensivelmente. Os nubentes, celebrantes deste sacramento, tornam-se eles mesmos sinais do amor de Cristo que amou e entregou-se por sua Igreja. Cristo restaurou aquilo que, acerca da união entre homem e mulher, era o desejo inicial de Deus. A novidade é que Ele, Cristo, eleva à dignidade de sacramento esta união. Assim, uma vez casados, os cônjuges expressam seu próprio amor pela Igreja. O apóstolo São Paulo, quando escreveu aos cristãos de Éfeso, expressou com as seguintes palavras esta realidade: “Maridos, amai vossas mulheres como Cristo amou a Igreja” (Ef 5,25). Esta passagem é muito significativa, pois, de forma bastante clara, Paulo afirma de que amor se fala. Não é de qualquer amor que vive o casal, mas, sem excluir as outras formas de amor, é do próprio amor de Deus. Nele encontram sua origem, seu sustento e sua finalidade. O casal sente que aquilo que os levou à união matrimonial é algo transcendente, mas agora presente de modo imanente na história de ambos. É um amor perene, fiel, gerador de vida. Nunca se desfaz e é tão grande que não se pode nem medir, como já dizia um santo e sábio: “A medida do amor de Deus é o amor sem medida”. É incomensurável. É caridade. Conscientes disso, o casal há de compreender como é supremo e nobre aquilo que ambos são chamados a expressar no casamento. Compreendem também porque este vínculo é indissolúvel, pois indissolúvel é o amor de Deus para com seu povo. Se o matrimônio é sinal deste amor, não pode se desfazer, apesar de a Igreja compreender a situação dos casais que desejam mas estão impedidos de assumir legitimamente este sacramento, sobretudo por causa de uma união anterior. Estes devem ser acolhidos na comunidade e, apesar dos limites que encontram por seu próprio estado de vida, ser ajudados e orientados a buscar viver uma vida cristã digna. Não se pode admitir, dentro da comunidade cristã, quaisquer formas de preconceitos ou exclusões. Fraternalmente precisam encontrar amparo e descobrir que a Palavra de Deus é para eles Palavra de diálogo, vida, amor e esperança.
O mês vocacional convida a todos para uma atitude eficaz e clara sobre o Matrimônio, sobretudo a Pastoral Vocacional, a Pastoral Familiar, os movimentos familiares e todos os responsáveis pela catequese matrimonial. É preciso que os já casados se conscientizem e renovem o compromisso assumido no consentimento feito no dia do casamento. Já aqueles que se preparam para este grande dia, os namorados e noivos, precisam ser devidamente orientados para que este ato seja plenamente livre e consciente. Saibam eles que o consentimento é um ato realizado pública e liturgicamente na Igreja, diante de todas as testemunhas ali presentes. Também saibam que este gesto é uma expressão comprometedora entre um homem e uma mulher, pois doam-se um ao outro em termos definitivos, enquanto ambos viverem. Este estado de vida assumido é vivido como pacto, como aliança de amor, expresso também e, sobretudo, na fidelidade e na fecundidade, como já afirmado. Por isso, toda celebração matrimonial, celebrada pelos nubentes, deve ser livre, sem coação, responsável, uma decisão madura. É o encontro de duas liberdades: uma a de Deus que os chamou a isso e, outra, do casal que responde livremente a este chamado divino. Chamado e resposta consciente, livre e muito bem refletida.
Também nos ensina a Igreja que este vínculo permanente é também exclusivo. Daí a fidelidade e a indissolubilidade já mencionadas. Mas a família, o lar, é também chamado de Igreja Doméstica. A casa precisa ser um espaço propício de vivência de fé, de graça de Deus, de busca de santidade. Já dizia alguém que levar o Evangelho para dentro da própria família faz dos pais também grandes missionários. Aliás, os pais são os primeiros responsáveis em ensinar os filhos a rezar, em educá-los na fé, em revelar a eles o rosto de um Deus todo-amoroso. E a melhor maneira de fazer isso é pelo testemunho de amor e fidelidade do casal. Se os pais não se amam e não expressam isso aos filhos, nunca conseguirão convencê-los de que Deus é amor. Os filhos devem ser levados a esta constatação através do exemplo dos pais, para que seguindo este exemplo, reproduzam uma vida configurada no amor que aprenderam em família. Com isso, também vão entendendo que a família é expressão e concretização localizada da grande família de Deus, a Igreja.
Por fim, amados irmãos, vale lembrar as palavras do Papa Bento XVI no Discurso Inaugural da V Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e do Caribe, no dia 13 de maio de 2007, em Aparecida – SP. Dizia o Papa que a família, “patrimônio da humanidade, constitui um dos tesouros mais importantes dos povos latino-americanos e caribenhos. Ela tem sido e é escola de fé, palestra de valores humanos e cívicos, lar em que a vida humana nasce e se acolhe generosa e responsavelmente”. Ainda afirma o Papa: “A família é insubstituível para a serenidade pessoal e para a educação de seus filhos” (cf. DI 5). Não há dúvidas da importância da família para a Igreja e para a sociedade humana. Certamente, um dos elementos irrenunciáveis na caminhada para o Reino de Deus é a família. Como Igreja e como família buscamos a santidade. Na família cristã vemos “células” saudáveis para que a sociedade seja um organismo saudável. Esta esperança precisa estar sempre presente na caminhada dos cristãos.
Não apenas neste mês vocacional, mas sempre, prezados leitores, vamos orar pelas famílias. Vamos promover os valores familiares. Vamos ajudar nossos lares a serem verdadeiros espaços de fé e amor.
Que o Senhor Deus da vida vos abençoe!
Padre Marcos Radaelli

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